Pois, ele "não tem nada contra o pessoal que gosta de heavy metal, mas"...
Eu também não tenho nada contra o pessoal que não gosta de heavy metal, mas há gajos que não fazem ponta de corno de ideia do que estão a falar e mesmo assim arranjam maneira de aparecer na televisão a dizer enormes barbaridades...
Não sei bem o que é facto e o que é ficção, mas espero que o livro "Lords of Chaos", que, supostamente, retrata os "factos", dê um estupendo filme de Sono Sion (anunciado há algum tempo, não sei se entrou em produção finalmente ou se vai continuar em águas de bacalhau).
Enquanto isso não acontece, em Setembro podem ver quatro filmes do realizador japonês no MOTELx, sem relação nenhuma com o heavy, black metal ou sadoterrorismo. :P
O Rogeiro nesta peça cometeu vários erros, mas o que mais me irritou foi, sem dúvida, o de tentar usar o "caso Burzum" como um exemplo.
Sim, é verdade, na Noruega o Varg Vikernes foi condenado em 1994 por ter matado o Aarseth e incendiado três igrejas (a acusação falava de uma quarta, mas ele foi considerado inocente dessa acusação). Numa entrevista, ele afirmou a determinada altura que apesar do incêndio das igrejas ter sido conotado pela comunicação social de satanismo, na realidade a saga de incêndios tinha sido iniciada pelo facto de ser o dia 6 de Junho, data em que em 793 os cristãos alegadamente (alegado pelo Varg, eu disso não sei) desecraram as sepulturas e os túmulos dos Vikings de Hordaland, e que Varg considera-se um dos seus descendentes e que isto tinha sido um acto de vingança. Por acaso - e ponho ênfase no "por acaso" porque isso deve ser feito até prova em contrário - o Varg tinha (e ainda tem) um projecto musical, de nome Burzum (e era bem conhecido por isso). Como poderá facilmente constatar, nenhuma das capas dos albums de Burzum tem nenhuma pessoa morta na capa de um disco - apesar do EP "Aske" ter uma fotografia da igreja (depois de queimada) no referido dia 6 de Junho. Se quisermos daí tentar fazer algum tipo de extrapolação (e mais facilmente se a fará se formos à procura de mais informação sobre Varg, coisa que claramente o Rogério não fez), será a de que o Varg poderia ser considerado como um "fanático religioso". Fazer uma ligação entre os crimes por ele cometidos e o "heavy metal" (como nota: Burzum é uma banda de Black Metal) é extrapolar por demais.
Pequenos pensamentos que se deixam a isto:
1) Não é a primeira vez nem será a última que vemos alguém a preferir a "desculpa fácil" para tentar explicar alguma coisa. Também Marilyn Manson foi acusado de ser culpado do massacre de Columbine, que nem bode expiatório, quando os autores do massacre nem gostavam de Marilyn Manson. Também na altura ouvi muitos iluminados a falar sobre o assunto (curiosamente, lembro-me bem que também foi na SIC). A forma como isso - totalmente injusto - afectou a vida pessoal de Marilyn Manson é... espantoso. Mais sobre o assunto aqui: Marilyn Manson - Bowling For Columbine ;
2) Também o Reiser matou a mulher, e isso não pode ser extrapolado para nada referente às pessoas que fazem file systems (ou generalizar ainda mais e falar de informáticos);
3) No fim das contas, o que o Rogério fez - e onde mais falhou - foi pegar num exemplo mediático de um crime na Noruega, e usar isso como "desculpa" para dizer "atenção que aquilo não é como parece". A falha na lógica é mesmo essa. É o mesmo que dizer que em Portugal também há perigo - afinal em Portugal também há assassinatos a sangue frio. Se calhar têm é de deitar culpa à caça (o homem pegou na sua caçadeira de caçar coelhos) ou ao vinho (veio da adega, embriagado, e matou mulher e filhos) ou a outra treta qualquer.
Muito honestamente como espectador leigo no assunto eu não interpretei a referência a grupos violentos de heavy metal como sendo uma desculpa pelo ataque, pelo contrário, o cuidado de introduzir a referência com "sem querer ofender as pessoas que gostam de heavy metal" significou para mim antes de tudo um sinal de respeito pelo tema, ou pelo menos das pessoas que o apreciam, a referência apareceu como um exemplo de alegados problemas de saúde mental, não como uma causa.
Retirando o microscópio e a consciência de quem conhece profundamente os casos de mau jornalismo à volta de grupos musicais, pela sua descrição, e de acordo com a minha conotação para fanatismo, o Varg Vikernes sofre de problemas mentais, pelo que, generalizações à parte, me parece válido como um exemplo na teoria "os problemas mentais que estão dentro de algumas pessoas da sociedade norueguesa".
As interpretações são obviamente subjectivas e dependem não só do emissor, da mensagem, mas também do receptor, claramente o Marcos identificou uma intenção e uma objectividade naquela referência que para muitos espectadores não existe.
Em relação ao ataque na Noruega, tema pelo qual o Nuno Rogeiro foi convidado (não foi certamente por ser expert em heavy metal) continuo com a questão que me pareceu menos esclarecida:
As ditas "doenças mentais" existem na Noruega de forma mais acentuada do que nos restantes países europeus?
A resposta a essa pergunta é que pode dar/retirar crédito ao essencial da análise que foi feita pelo jornalista.
O "sem querer ofender" dava um excelente capítulo do "A Causa das Coisas".
A ofensa acontece frequentemente sem intenção quando existem diferenças de sensibilidade/contexto/cultura entre o emissor e receptor.
Como expliquei anteriormente, atribuir ao "heavy metal norueguês" o título de "grupos mais violentos do mundo" porque uma pessoa que cometeu dois crimes por factores infelizmente comuns (fanatismo religioso e negócios) por acaso é Norueguesa e tem um projecto de Black Metal é tão ilógico como atribuir ao "caldo verde português" o título de "comida de psicopatas" só porque houve um tipo que matou a mulher e que por acaso gosta muito de chouriço, frequentemente encontrado no caldo verde.
Não posso, portanto, aceitar o seu "generalizações à parte" para depois fazer uma generalização e dizer que o Varges é um exemplo de que há pessoas na Noruega com problemas mentais -- não o posso, pelo menos, sem que o João passe a estender essa generalização e aceitar que o Varges é um exemplo de que há pessoas no mundo que têm problemas mentais. Acima de tudo, uma generalização desse género em vez de dar força a um qualquer argumento, tira-a, porque a generalização por si só é tão absurda como inútil para o tema em discussão.
Quanto à forma como termina o seu comentário... Sim, concordo, e o ponto é todo esse: As ditas "doenças mentais" existem na Noruega de forma mais acentuada do que nos restantes países europeus? A resposta a essa pergunta é que pode dar/retirar crédito ao essencial da análise que foi feita pelo jornalista. Estamos a falar de alguém que teoricamente é comentador geopolítico, mas que justifica o seu comentário geopolítico com uma tese inventada à pressão, não comprovada nem defendida pelas pessoas nessa área - a psiquiatria - e que é justificada com a apresentação e generalização de um caso isolado, que foi tão bem estudado que até foi tão mal apresentado (como expliquei no meu comentário anterior).
Se o comentador não quisesse colar o heavy metal às doenças mentais teria dado mais exemplos de doenças mentais de pessoas de outras áreas.
Assim, nitidamente, o comentador está a fazer uma colagem das doenças mentais na Noruega ao Heavy Metal.
Isto é exactamente a mesma tolice que se faz quando se colam os jogos de computador às desgraças do mundo, por exemplo.
Quanto à pergunta "As ditas "doenças mentais" existem na Noruega de forma mais acentuada do que nos restantes países europeus?", olhe faça-a ao sr Rogeiro. Pelos vistos, o homem considera-se um expert na matéria.
"Quanto aos rótulos, os rótulos não servem para nada. Agora há uma coisa: eu espero que as pessoas que ontem vieram muito rapidamente acusar os grupos como a Al Caeda de fazer isto, espero que se arrependam disso. Não, mas não havia nem uma, não havia um milímetro de indicações nesse sentido, não havia um milímetro de indicações nesse sentido."
Eu respondo:
"Quanto aos rótulos, os rótulos não servem para nada. Agora há uma coisa: eu espero que as pessoas que ontem vieram muito rapidamente acusar os grupos como os de Heavy Metal Noruegueses de serem os mais violentos do mundo e usar isso para insinuar que existem doenças mentais na Noruega de forma mais acentuada do que nos restantes países europeus, espero que se arrependam disso. Não havia um milímetro de indicações nesse sentido, não havia um milímetro de indicações nesse sentido."
A reacção aqui neste post parecia-me desproporcionada, agora já a compreendo.
Obrigado pela vossa atenção, desculpem a intromissão.